quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Pombos

Sabem quando estamos a conduzir e vemos um pombo mesmo à frente do carro, a fugir em milimétricos passinhos e abanar a cabeça como uma avestruz?

É claro que sabem, acontece todos os dias. Nós continuamos a andar devagarinho, como se fossemos um assassino psicopata, agarrados com toda a força ao volante e com os olhos esbugalhados. Mas fazemos isto porque sabemos que eles vão sempre acabar por fugir.

Hoje, um dos pombos não fugiu. E lentamente o meu Lancia perfurou as entranhas deste animal que por vezes faz de carteiro. Na altura em que o atropelei não me apercebi do desastre que ocorrera. Continuei a avançar com o carro cerca de 200 metros e estacionei. Saí do carro, coloquei o meu habitual saco da Rebook ao ombro, e caminhei de volta ao sítio onde a minha vida criminal tinha acabado de começar.

Olho para a frente e vejo um aglomerado de pessoas a fazer uma pequena roda em volta de algo que estava claramente estendido no chão. A minha boca abre-se mostrando o seu diâmetro de 3 metros e a sua dupla campainha mesmo por trás do céu da boca. O saco da Rebook escorrega pelo ombro e depois pelo meu braço e bate no chão, num movimento perpétuo e profundo. Começo a correr, a respiração está ofegante, o slow motion está activo e os meus músculos chocam uns com os outros numa dança violenta ao som da minha corrida.

Chego ao local e os meus braços afastam os transeuntes curiosos. A minha boca deita o ar cá para fora como se não quisesse mais respirar e os meus olhos começam a encher-se de incredibilidade. O pombo está vivo, tem uma asa partida e o seu pescoço roda na minha direcção. O último fólego está prestes a chegar e os seus olhos estão em sintonia com os meus. Consigo perceber um "agradece à União Columbófila do Zambujal tudo o que fez por mim, e diz à Sra. Pomba que gosto muito dela." Consegui ver um pombo "homem-de-negócios", gerente de uma qualquer rede multi-nacional de correio, o típico chefe de família. De certeza que haverá amanhã grandes homenagens a este pombo.

Começa a chover. Toda a gente se afasta, excepto eu. A chuva encharca-me em poucos segundos. Olho para o céu e faço o típico "NAAAAAAAAAAOOOOOOOOOOOOO"

Fim, enfim, mais um devaneio cinematográfico.

Dedicado a todos aqueles que são ignorantes e que não percebem o propósito de certos seres vivos no nosso planeta. E ainda àqueles que acham que os pombos não passam de seres irritantes e que adoram pontapear os grandes aglomerados de pombos que há nas ruas. E ainda àqueles cuja existência é ainda mais desprezível e escusada que a de um simples pombo.
Autch, sim é para ti. Sempre ouvi que os pombos eram animais que passavam aos humanos todas as doenças e mais algumas... Perdeste a moral para falar de pombos.

7 comentários:

  1. wowowowow, que post fortissimo pedro. nao estava a compreender muito bem quando ainda andava no inicio, e pela metade... mas, percebi tudo, percebi tudinho, faz completamente todo o sentido que possa existir, e eu assino por baixo e quero que toda a gente pense que escrevemos isto os dois porque esta super inteligente e eu quero fazer parte deste belo texto! pronto, acabei.

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  2. Eu também odeio pombos. Mas adorei o post.

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  3. loooool lindo!
    Ainda bem que estás de volta!
    Estive a ver o video do teu momento musical de milfontes...tá lindo! "Aquiiii, em vila nova de milfonteees..." lool lindo!
    E se eu viesse para aqui desbocar-me sobre milfontes...ui, cuidado com o Pedro!

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  4. Hugo PINTO!! nao te esqueças de uma das frases que eu proferi no meu estado de inconsciência mais puro: "o que se passa em mil fontes, fica em mil fontes!!!!!"

    aahhahaah

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  5. Hugo, el Matchu PINTCHU23 de setembro de 2010 às 06:33

    Sabes que sim.
    What happens in The New Village of a Thousand Sources, stays in The New Village of a Thousand Sources.
    Mas não te esqueças, para o ano posso dizer "Sei o que fizeste o Verão passado!" muahahahah...not.

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