domingo, 6 de dezembro de 2009

Uma Questão de Credibilidade

Em tempos, eu e essa grande pensadora que é Cláudia Ribeiro, equacionámos realizar o seguinte projecto: viver uma semana como autênticos sem-abrigos e vagabundos. Seria uma experiência única certamente. Iriamos aprender muita coisa ao vestir a pele daqueles que todos os dias têm que pedir ajuda invocando o seu estado quase moribundo.
Infelizmente não o chegámos a realizar, mas se o tivessemos realizado, obviamente que nunca conseguiriamos passar por sem-abrigos ou vagabundos se não estivessemos vestidos e maquilhados a rigor. Ora, acontece que todos os dias me deparo com um autêntico SENHOR VAGABUNDO em frente ao Centro Comercial Cascais Villa, local onde eu trabalho. Vou falar-vos então desta nova variante da "vagabundice", que está a ganhar cada vez mais adeptos:

SENHOR VAGABUNDO, nome científico: "HOMOS VAGABUNDUS". Espécie de vagabundo que surgiu em meados do ano de 2009 na zona de Cascais. Os especialistas explicam o aparecimento desta variante do tradicional vagabundo (VAGABUNDUS TRADICIONALIS) baseando-se num "upgrade" que a comunidade vagabunda sentiu necessidade de realizar para acompanhar os avanços e as alterações (especialmente a nível tecnológico) que o mundo sofre diariamente.
Devido à zona onde esta espécie de vagabundos começou a aparecer, há quem a designe ainda como "VAGABUNDO CHIQUE", aumentando claramente o nível de prestígio desta espécie no ceio da alta sociedade cascalense.
Características da espécie:
- A mensagem de desespero que o vagabundo segura nas mãos é passada a computador e plastificada, podendo por vezes estar colada à superfície sólida mais próxima do vagabundo, fazendo o local parecer por vezes um estabelecimento comercial, sendo então mais agradável e chamativo para os civis largarem as suas esmolas. Esta nova técnica substitui o tradicional cartão, onde as mensagens eram escritas com lápis de cera e com 5 erros ortográficos em 2 palavras. Prevê-se que daqui a alguns anos a mensagem de desespero seja transmitida numa moldura digital.
- Caso o vagabundo esteja sentado, passa a fazê-lo numa cadeira de rodas "quitada" ou "alterada" e não num banco de madeira roubado do Portugal dos Pequeninos, ou mesmo no chão. A cadeira de rodas em questão tem de ter encosto, jantes metalizadas, braços, suporte para um copo e uma árvore por perto para fornecer a melhor sombra possível. Os especialistas afirmam que em poucos anos iremos ver esta nova espécie de vagabundos fazer o seu peditório sentados em cadeiras de massagens, a beber água de côco e com duas "Lenkas" em cada lado da cadeira a abanar dois ramos de uma palmeira com um sorriso fingido.
- O local de eleição para realizar o peditório deixou de ser o típico beco sem saída sujo e abandonado, que foi substítuido pelas saídas das grandes superfícies comerciais e das estações ferroviárias e rodoviárias. Existem relatos de que já foram vistos vagabundos a exercer a sua actividade na Quinta da Marinha e ainda perto de grandes resortes e hóteis de cinco estrelas.
- A endomentária do vagabundo mudou radicalmente: desapareceu o casaco rasgado e sujo, as calças transformadas em bermudas, os ténis que mostram os dedos dos pés, a boina e as luvas à "Batatinha". Hoje em dia, a nova vaga de vagabundos acompanha as tendências que chegam de Paris e começam a aparecer as seguintes variantes: sapatos de vela ou havaianas para calçar, calças beges ou de ganga, camisa da Ralph Lauren ou uma camisola de gola alta.
- A aparência passou também a ser uma grande preocupação dos vagabundos: a barba aparece feita e cuidada, o cabelo está frequentemente molhado e o penteado baseia-se na silhueta de Pedro Santana Lopes ou de Simão Sabrosa. As mãos apresentam-se limpas e as unhas cuidadas. Passaram-se a ultilizar ainda alguns adornos, como anéis, óculos, canetas BIC e uma pastinha debaixo do braço, ideia retirada da habitual aparência das Testemunhas de Jeová, grupo que já ameaçou abrir um processo por plágio real contra esta nova vaga de vagabundos. Em declarações a um jornal qualquer, Tino Mariquinhas, conhecido vagabundo cascalense afirmou "que esta nova aparência dos vagabundos é o primeiro passo na luta pela profissionalização." Tino Mariquinhas adiantou ainda que está a ser estudada a hipótese de abrir um curso profissional de "vagabundice" para dar a conhecer aos jovens a essência desta profissão e para atrair novos praticantes da mesma.
- Por último, os vagabundos trabalharam ainda a forma de receber as esmolas bem como a sua própria essência. Deixou de se utilizar a mão trémula ou a caixinha de cartão ou de plástico ou mesmo o chão da rua e as esmolas passaram a ser recebidas em toalhas de piquenique, cestos e baldes com aba. O agradecimento da esmola é uma técnica que ainda não é muito utilizada pela grande maioria dos vagabundos mas que já aparece em alguns casos, sendo o mesmo prestado através de animais, instrumentos musicais, um súbtil aceno da mão ou mesmo um olhar doce e discreto. Os vagabundos passaram ainda a ser mais selectivos, sendo que nos dias de hoje já raramente algum vagabundo aceita comida, roupa ou qualquer tipo de dádiva a não ser dinheiro.

Começa então a observar-se uma nova vaga de vagabundos nas ruas de todo o mundo, vinda essencialmente dos ares nobres de Cascais. Os novos vagabundos elegem ainda a música "Nobre Vagabundo" de Daniela Mercury como o seu hino e declaram uma guerra acesa contra os vendedores de pensos rápidos e de Ferbies na qual discutem a monopolização do mercado de "vagabundice" sofisticada.

E agora vocês perguntam: "Então e a segunda parte da história de sexta-feira Pedro?"
Pff.... como se isso vos fizesse mais feliz...
Mesmo se fizer, vão ter de esperar. Enquanto isso entretenham-se com outra perspectiva da mesma história no blogue de uma pessoa que faz tanta falta no mundo dos blogues como eu no mundo das pessoas que não conseguem dizer a palavra "batata".... http://www.ositiodamarta.blogspot.com/.

beijos, abraços e muitos palhaços.

2 comentários:

  1. e para quando um texto sobre o teu mestre?????

    Abraço
    P.F.

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  2. perdoa meu amor, esse nobre vagabundoooo

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